quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Pastoral sobre os Refugiados - AEB

 

 


 

SOBRE OS REFUGIADOS
E A RESPONSABILIDADE DA IGREJA

Pastoral
Voluntários da Cruz Vermelha austríaca recebeu milhares de imigrantes em Nickelsdorf de passagem da fronteira da Hungria, com bebidas quentes e alimentos, fornecendo assistência médica e atividades de lazer para as crianças.
Foto: Anna Zehetner/ IFRC – Áustria (05/09/2015) / Fotos Públicas.

Somos chamados a adotar um jeito hospitaleiro e compassivo de ser, um estilo de vida coerente com o caráter de Deus.
 
O drama dos refugiados em massa – em especial nas fronteiras com a Europa – é complexo e envolve dimensões sociais, econômicas, políticas e espirituais. Talvez, nós, brasileiros, ainda não tenhamos condições de mensurar esta complexidade pelo fato de não ser este um problema que sofremos diretamente, tão de perto. No entanto, como cristãos, e como Igreja Evangélica Brasileira, podemos assumir algumas posturas:
 
1. Orar compassiva e intensamente para que todo estrangeiro refugiado não fique desamparado. Desde o Antigo Testamento, o Senhor tem se preocupado com os estrangeiros e tem orientado seu povo a não fechar suas portas para eles. Num contexto em que os estrangeiros costumavam ser considerados inimigos, Deus pediu a seu povo que os amassem (Dt 10.19) e que os tratassem com equidade (Lv 19.34). A “lei da rebusca” é um exemplo bem prático disso (Dt 24.18-22). Jesus reafirmou sua preocupação pelos mais frágeis (Mt 5) e foi enfático ao referir-se ao cuidado do forasteiro (Mt 25.35-40). A igreja também guardou este ensino (Rm 12.13)1. Lembramos que Jesus também foi um refugiado (Mt 2.14-15).
 

2. Adotar um estilo de vida hospitaleiro. Como bem nos lembrou Jacqueline Alencar, em artigo para o site Protestante Digital, “a hospitalidade não era apenas uma opção. A ninguém devia faltar o sustento, nem os direitos nem as obrigações. Quanto cuidado tinha Deus pelos diferentes, pelos que haviam sido acolhidos debaixo de suas asas! Como Rute, uma moabita, que não era judia entre as judias, no entanto, chegou a fazer parte da genealogia do mesmíssimo Jesus, filho de Deus. E Deus continua tendo o mesmo cuidado”.
Embora a visibilidade do drama seja maior hoje, o problema é antigo. Para exemplificar, veja aqui o trabalho fotográfico de Alyson Montrezol em Meheba Refugee Camp, na Zâmbia, um dos mais antigos campos de refugiados do mundo, que existe desde 1970. Envolve também as outras formas de desamparo que acontecem no Brasil, principalmente, com as crianças.
Deus nos chama para adotarmos um jeito hospitaleiro e compassivo de ser. Não se trata apenas de dar um socorro, mas de adotar um estilo de vida coerente com o caráter de Deus.


3. Mobilizar para que estes refugiados recebam recursos para sobrevivência e, se possível, condições para que recomecem suas vidas, mesmo que temporariamente, em outro lugar.Para isso, felizmente, algumas organizações cristãs como Tearfund e Viva, já estão captando doações para que sejam transferidas em forma de alimentos e outros itens a famílias refugiadas.
 
4. Centenas de refugiados começam a chegar ao Brasil, e, nós, como igreja, podemos acolhê-los. É o que organizações como a Missão MAIS, Compassiva, Missão Paz e outras estão fazendo. Sua igreja local ou grupo cristão também pode envolver-se. Clique aqui e leia o relato sobre a visita do Pr. Elben César, da revista Ultimato, a estas organizações. Leia também como ajudar organizações internacionais.
 
5. Não há dúvidas de que acolher um refugiado exige de nós mais do que boa vontade. Precisamos reorganizar nossa rotina, abrir mão de algumas coisas e ter gastos financeiros e estarmos sujeitos a conflitos culturais. No Brasil, as igrejas locais podem fazer campanhas bem práticas de acolhimento a refugiados, mas não somente isso. Acolher os refugiados provavelmente nos mostrará que há muitos outros que aqui mesmo precisam de abrigo e hospitalidade. Num país onde o déficit habitacional é grande e a desigualdade social absurda sempre haverá a necessidade de expressarmos a hospitalidade cristã.

6. Questionar, bem ao tom profético da Bíblia, decisões estruturais e políticas quanto ao acolhimento de refugiados e investigar as causas histórias do problema. É verdade que os governos precisam tomar decisões justas, não simplesmente para autoproteger-se, mas sim para que haja cooperação de todos a fim de lidar com a migração em massa dos refugiados. Os tratados de cooperação internacional precisam ser revistos à luz da conjuntura atual e todos os países envolvidos precisam ser ouvidos e, ao mesmo tempo, precisam assumir seu papel. O problema é humanitário, e todas as nações precisam assumir sua responsabilidade tanto para acolher os refugiados quanto para ajudar a resolver as causas desta migração.


7. Lembrar das igrejas que estão nos países em conflito, de onde os refugiados fogem. Em 2014, o Concílio da Comunidade Evangélica da Síria e do Líbano publicou nota pedindo que as igrejas e organizações cristãs de todo o mundo pressionem e influenciem governos que apoiam grupos radicais em áreas de conflito para que para impeçam o fluxo de recursos e armas para os “takfiri” e grupos radicais. A nota também encoraja que as comunidades cristãs “continuem sendo agentes disseminadores da cultura de amor, paz e direitos humanos, bem como do pluralismo intelectual, educacional e religioso”.

A Aliança Evangélica2, coerentemente com suas convicções cristãs, deseja dar sua contribuição ao enfrentamento do problema dos refugiados. Mesmo diante da complexidade da questão, queremos estimular e encorajar que a Igreja de Cristo seja exemplo de testemunho, que seja “sal e luz” diante deste desafio gigantesco. É preciso enxergar as dimensões da crise com os olhos de Cristo. Que Deus nos ajude a fazer isso.
 
Brasil, 21 de setembro de 2015
Aliança Evangélica Brasileira

 

Notas:
1. Artigo “Despertar al drama” no site em espanhol Protestante Digital.
2. Este texto é baseado no editorial do Portal UItimato, com o qual concordamos, acrescido de sugestões do Conselho Coordenador da Aliança.
 

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